Salvar vidas deveria ser argumento absoluto para baixar limites de velocidade nas cidades, mas ainda não é. O receio de gestores públicos e mesmo da população é que a medida possa reduzir a capacidade das vias e tornar as viagens mais demoradas. A boa notícia é que locais que adotaram limites menores no mundo todo estão experimentando um trânsito mais seguro e com tempos de viagem minimamente impactados.

É natural que isso ocorra porque, em geral, nos horários de pico a velocidade média já é inferior ao limite permitido, em função do grande volume de veículos. Ou seja, as viagens mais rápidas acontecem fora dos horários de congestionamento e, nessas condições, limites mais baixos impactam em cerca de 25% do tempo de deslocamento.

Para mostrar como cidades se beneficiaram desta medida, vamos falar sobre três experiências – no Brasil, Austrália e Estados Unidos – onde menores limites de velocidade significaram mais respeito às pessoas, uma mobilidade urbana eficiente e, principalmente, lugares mais agradáveis para viver. Os estudos de caso são trazidos na publicação “Impactos da Redução dos Limites de Velocidade em Áreas Urbanas”, lançada neste mês pelo WRI Brasil | EMBARQ Brasil.

São Paulo

Reduzir velocidade não diminui a capacidade da via. Foi o que constatou a cidade de São Paulo ao restringir o limite na Avenida 23 de Maio, em 2010, de 80 km/h para 70 km/h. Isso porque, onde há semáforos, travessias de pedestres em nível e acesso a lotes lindeiros, o tráfego já sofre interrupções frequentes.  Diversas outras vias da cidade – muitas delas com faixas exclusivas de ônibus – também tiveram limites reduzidos. Algumas, de 70 km/h para 60 km/h, enquanto que em outras importantes rotas de transporte coletivo, passaram de 60 km/h para 50 km/h.

Além disso, a fim de assegurar mais segurança para os pedestres, vêm sendo adotados, de forma gradual, limites de 40 km/h, por meio do Programa de Redução de Velocidade da Companhia de Engenharia de Tráfego de São Paulo (CET-SP).

 

Nova York

Foto: NYC DOT/Flickr

O projeto Green Light for Midtown para reconfigurar a Broadway, diagonal às demais vias da área central da cidade, foi criado em 2009 com a implantação de modificações geométricas que acomodassem todos os usuários das vias urbanas com segurança. Para isso, foram feitos ajustes na programação semafórica, redução das distâncias de travessia de pedestres, mudanças na regulamentação de estacionamentos e medidas moderadoras de tráfego. Foi um programa piloto tão positivo, com redução de acidentes e melhoria da mobilidade, que virou uma solução permanente.

Alguns dos seus resultados incluem tempos de viagem 15% menores, velocidade operacional dos ônibus 13% maior, 64% menos condutores e passageiros feridos no trânsito onde o projeto foi aplicado, 35% menos pedestres feridos.

O projeto levou a Big Apple a reduzir o limite de velocidade em muitos bairros para 20 milhas, equivalente a 32 km/h. Para agir especificamente na redução de mortes e ferimentos de trânsito, foi lançado em 2014 o Plano de Ação Visão Zero, cuja principal medida foi reduzir o limite padrão em toda a cidade de 30 milhas (48 km/h) para 25 milhas, equivalente a 40 km/h.

 

Austrália

Foto: Emmett Anderson

No início dos anos 2000, o limite máximo permitido nas vias urbanas da Austrália foi reduzido de 60 km/h para 50 km/h. Entre as lições aprendidas pelo país, 40% menos fatalidades no trânsito, redução de velocidade média nas vias locais e coletoras menor que 5 km/h.

Especificamente no Estado de South Australia, graças à medida foram poupados um bilhão de dólares em despesas relacionadas a acidentes de trânsito entre 2010 e 2013. A velocidade média de fluxo livre sofreu uma queda de pouco mais de 2 km/h, e constatou-se que uma grande parte dos veículos trafegava em velocidade de fluxo livre nessas vias mesmo após a redução do limite de velocidade, indicando que a medida não gerou congestionamentos.