publicado originalmente no “The City Fix Brasil”
As cidades brasileiras, lar para 85% da população do país, já estão sentindo os efeitos das mudanças climáticas. Chuvas intensas e enchentes no Rio de Janeiro estão causando deslizamentos de terra fatais e com altos custos sociais e de infraestrutura. Altas de temperatura estão quebrando recordes em Porto Alegre, e cidades no sudeste enfrentam uma das piores secas na história do país. No total, 463 das cidades brasileiras – incluindo 11 capitais estaduais – ficam em áreas costeiras ameaçadas pela elevação do nível do mar, oferecendo sérios riscos para mais de 50 milhões de pessoas, ou em torno de 26% da população do Brasil.
Porém, como especialistas do World Resources Institute (WRI) descobriram recentemente, algumas cidades estão começando a tomar medidas para se adaptar. Como parte de um novo fluxo de trabalho no WRI Ross Center for Sustainable Cities, uma equipe visitou três capitais brasileiras: Rio de Janeiro, Porto Alegre e Brasília. Essas cidades já estão explorando maneiras de criar comunidades mais resilientes diante de enchentes, secas e outros impactos do clima. Discussões com autoridades locais sinalizaram três políticas de adaptação e necessidades de planejamento no Brasil: mobilização de redes e recursos, empoderamento da governança e das pessoas e aproveitamento de dados e ferramentas.
1) Redes e recursos
Tomadores de decisão, planejadores e lideranças municipais no Brasil são ótimos em trabalhar de forma coletiva, mais do que isolados. Essa colaboração se estende até mesmo além das fronteiras nacionais. Por exemplo:
Como presidente do C40, o prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes, pretende compartilhar políticas urbanas bem sucedias – como a implementação de corredores BRT – e replicar essas iniciativas entre as cidades membros do C40.
Porto Alegre e Rio de Janeiro trabalham com a rede Rockfeller 100 Resilient Cities para desenvolver planos de resiliência. A rede, que ajuda cidades a se tornarem mais resilientes, orienta a inserção da adaptação nas políticas e departamentos municipais.
Em Brasília, legisladores estão interessados em aprender sobre o planejamento para adaptação em outros países, como Índia, México e Estados Unidos. Karen Cope, secretária de Mudanças Climáticas e Qualidade Ambiental do Ministério do Meio Ambiente, recém voltou do UNFCC National Adaptation Plan Forum, onde pôde trocar experiências e lições no setor de resiliência com outros planejadores.
2) Pessoas e governança
De acordo com autoridades das três cidades, adaptação não é apenas uma questão técnica: pessoas e governança têm um papel chave no processo de tornar realidade novas políticas e iniciativas.
Historicamente, o mau planejamento urbano tem frequentemente levado a resultados ruins para as comunidades. As cidades agora trabalham para criar novas estruturas de governança para ajudá-las a responder melhor a desastres naturais e a amenizar a vulnerabilidade das pessoas às mudanças climáticas.
Em dezembro de 2010, por exemplo, a cidade do Rio de Janeiro criou o Centro de Operações (COR), em decorrência a deslizamentos de terra. O centro opera 24 horas por dia, monitorando indicadores como precipitação, riscos de incêndio e temperaturas. O modelo do COR é inovador, integrando 30 agencias (municipais, estaduais e de utilidade pública) para criar um processo multidisciplinar de tomada de decisões. O Centro engaja as comunidades por meio de treinamento e se comunica de forma proativa com os cidadãos, por meio de redes sociais e pelos canais tradicionais da mídia, e recebe dados reunidos de forma coletiva no aplicativo Olhos da Cidade.
Essas medidas permitiram que a cidade acelerasse e melhorasse sua eficiência em responder a desastres naturais, e a administração da cidade agora procura desenvolver planos de resiliência de longo prazo. Pedro Junqueira, presidente do COR, explica: “Mais do que a tecnologia, ter as pessoas certas sentadas na mesma mesa para compartilhar conhecimento, informação e experiência nos ajudou a melhorar significativamente nossa eficiência”.
3) Dados e ferramentas
As autoridades municipais estão lançando mão dos dados e da tecnologia para melhorar o processo de tomada de decisão, particularmente no contexto de incerteza que cerca os futuros impactos das mudanças no clima.
O Rio de Janeiro trabalha com uma gama de diferentes dados e ferramentas para diminuir o tempo de resposta aos desastres naturais. A cidade instalou um sistema de alerta de pluviômetros que avisam as autoridades municipais quando as chuvas atingem 40 milímetros, alertando a população sobre potenciais enchentes por meio de sirenes e mensagens de texto. A prefeitura também mapeou cidadãos em situação de vulnerabilidade para que as chamadas de emergência possam chegar até eles rapidamente, caso seja necessário. Devido a esse sofisticado sistema de dados e planejamento, a cidade não registra nenhuma morte relacionada a desastres naturais desde 2010.
Soluções tecnológicas desenvolvidas pelas cidades, como os pluviômetros do Rio, também estão recebendo apoio em escala nacional. O CEMADEN, Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais, está liderando o Pluviômetros na Comunidade. O projeto vai instalar pluviômetros semiautomáticos que serão gerenciados pelos moradores em 800 comunidades em todo o país. Os dados serão coletados para criar mapas online de monitoramento com a disponibilização das informações.
Intensificando a adaptação eficiente
Claro, essas são apenas algumas das lições das cidades brasileiras. Há ainda muito trabalho a ser feito para tornar as áreas urbanas do Brasil realmente resilientes, e as cidades ainda têm mais a fazer para engajar todos os atores envolvidos com adaptação, de ONGs a moradores e especialistas e empresários.
Fundamentalmente, adaptar-se aos impactos das mudanças climáticas requer ações em escala local, nacional e mesmo internacional. Aprendendo com as iniciativas bem sucedidas das cidades, porém, podemos trabalhar para criar comunidades resilientes em todo o mundo.
Este post foi originalmente publicado no WRI Insights.