Projeto tem a chancela da ABCP, que busca estimular pesquisas sobre a eficácia do concreto em áreas urbanas
A ABCP (Associação Brasileira de Cimento Portland) está desenvolvendo o projeto da sarjeta com concreto permeável. A solução é uma alternativa urbana para bocas de lobo, que costumam entupir e dificultar a vazão das águas pluviais – provenientes das chuvas -, contribuindo para as enchentes nos grandes centros urbanos do país. O trabalho é liderado pelos engenheiros Mariana Marchioni, Claudio Oliveira e Gianfranco Becciu. O trio instalou um protótipo na sede da ABCP, que mereceu destaque no 4th International Electronic Conference on Water Sciences (4ª Conferência Eletrônica Internacional em Ciências da Água (ECWS-4)).
O projeto propõe substituir a sarjeta tradicional por uma estrutura de concreto permeável e uma base que funciona como um dreno francês. O objetivo é evitar o acúmulo de água na sarjeta e os problemas com a manutenção das bocas de lobo. “A manutenção das bocas de lobo é um dos principais custos na gestão da drenagem urbana nos municípios”, explica Mariana Marchioni. A pesquisadora ainda ressalta que o sistema ajuda também a melhorar a qualidade da água que chega até a rede de drenagem. “Além de melhorar a vazão, o concreto permeável possibilita que a água que chega até a rede de drenagem passe por filtros”, diz.
O sistema instalado no estacionamento da ABCP possui uma calha de 15 metros de comprimento, com uma área de captação de 400 m². Seu desempenho foi comparado a calhas convencionais de dimensões semelhantes, e localizadas no mesmo estacionamento. A percepção dos pesquisadores, relatado no estudo enviado ao ECWS-4, é que a superfície porosa do concreto permeável, assentada em base de cascalho, ajuda a controlar o escoamento na rede de esgoto. Isso ocorre por causa do armazenamento temporário das águas pluviais dentro das camadas porosas da estrutura.
Protótipo segue ensaios recomendados pela ABNT NBR 16416:2015
Os primeiros resultados obtidos com a sarjeta permeável mostram um valor altíssimo de capacidade de infiltração do concreto permeável, na ordem de 10-3 m/s medidos com o ensaio mencionado na ABNT NBR 16416:2015 – Pavimentos permeáveis de concreto – Requisitos e procedimentos. Além de seguir a norma técnica, a engenheira faz outra ressalva. “Para que a construção do pavimento permeável garanta a infiltração da água, é preciso considerar toda a estrutura do pavimento e conhecer dados da região, como o tipo de solo, o nível do lençol freático e a frequência de chuvas”, destaca.
O estudo que resultou no protótipo da sarjeta permeável é mais um passo nas pesquisas que a ABCP desenvolve desde 2010 sobre pavimento permeável. Na cidade de São Paulo, a associação já montou outros protótipos em um trecho de calçada no bairro Jardins e outro no estacionamento da Universidade de São Paulo (USP). O empenho neste tipo de pesquisa se dá porque o custo de execução do pavimento permeável é menor quando comparado com outros sistemas utilizados no combate às enchentes, como os chamados “piscinões”, que, além do alto custo de implantação, também demandam custo de manutenção com limpezas periódicas.
Assista a palestra de Mariana Marchioni na ABCP, sobre pavimento permeável e ABNT NBR 16416
Entrevistado
Reportagem com base no projeto apresentado na 4ª Conferência Eletrônica Internacional em Ciências da Água (ECWS-4)
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Jornalista responsável: Altair Santos MTB 2330