Da Agência USP
Construída para a Copa do Mundo de 2014, a Arena Corinthians, também conhecida como Itaquerão, pode ser catalisadora de transformações urbanas no seu entorno. Para aproveitar a oportunidade, um estudo da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (FAU) da USP propõe criar maior equilíbrio entre a ocupação e a preservação dos recursos naturais na vizinhança do estádio, com a adoção de princípios do urbanismo ecológico.
“O urbanismo ecológico concilia ocupação urbana e natureza por meio de ferramentas, como implantação de infraestrutura verde, de hortas comunitárias, jardins de chuva (canteiros para drenagem natural), plantio massivo de árvores, retomar os cursos d’água, entre outras ações”, explica a arquiteta Patrícia Akinaga, autora da tese de doutorado “Urbanismo ecológico, do princípio à ação: o caso de Itaquera, São Paulo, SP”, defendida em maio deste ano e com orientação da professora Maria de Assunção Ribeiro Franco.
A Arena Corinthians faz parte do polo institucional idealizado pela Secretaria Municipal de Desenvolvimento Urbano da Prefeitura de São Paulo e prevê a implantação de equipamentos públicos, como um Fórum, uma rodoviária, uma ETEC/FATEC, SENAI, incubadora e laboratórios para o Parque Tecnológico da zona leste, um Centro de Convenção e Eventos, um Batalhão da Polícia Militar, uma obra social/ assistencial e o Parque Linear Rio Verde.
De acordo com a pesquisadora, para catalisar transformações em áreas urbanas já consolidadas e degradadas, uma das estratégias do poder público é a implantação de grandes equipamentos esportivos como elementos de atração de público e capital de investimento.
“Esse é o caso de estádios, eles são capazes de transformar o entorno economicamente e ambientalmente, temos exemplos nas cidades de Los Angeles e São Francisco, nos Estados Unidos, e Johannesburgo, na África do Sul, que inclusive foi uma das sedes da Copa de 2010”, ressalta a arquiteta.
Projeto
Baseada nesses estudos de caso, Patrícia fez um levantamento do entorno do Itaquerão, mapeando as áreas verdes e as estruturas físicas existentes. O perímetro do trabalho foi definido baseado nas características do uso do solo, deslocamentos a pé, áreas verdes como a Serra da Cantareira ao norte, Área de Proteção Ambiental (APA) do Carmo ao sul, com a complementação da área compreendida entre a APA e o limite do município de Itaquaquecetuba, onde se encontra a Serra do Mar e a área de influência do estádio.
“Dentro dessa área há muitos espaços subutilizados e assentamentos precários que poderiam se transformar em novas âncoras de infraestrutura verde, juntamente com áreas como a Serra da Cantareira, o Parque Ecológico Tietê e a APA do Carmo, conectados pela arborização das ruas, áreas verdes residenciais e jardins de chuva a serem criados nas vias”, afirma a arquiteta.
Segundo a pesquisadora, na vizinhança do Itaquerão há muitos córregos que poderiam ser aproveitados para a criação de caminhos verdes em suas margens, implantação de ciclovias, calçadas largas e arborizadas. “Nos terrenos vagos, propomos o uso para empreendimentos de recreação, lazer e educação ambiental, com a implantação de programas como jardins e hortas comunitários. Também podemos conectar a Serra da Cantareira com a APA do Carmo com corredores verdes, já que essa ligação não existe atualmente”, explica Patricia.
A pesquisadora defende a transformação dos estacionamentos de superficíe do polo institucional, que a Arena Corinthians faz parte, em edifícios garagem para a liberação de espaços para áreas verdes. Apesar de não ser um projeto de curto prazo, ela acredita que as diretrizes do Urbanismo Ecológico podem ser incorporadas ao Plano Regional da Subprefeitura de Itaquera, que sofrerá alterações com a revisão do Plano Diretor.
“Princípios do Urbanismo Ecológico como a implantação gradativa de infraestrutura verde, a estruturação urbana a partir dos cursos d’ água, a criação de ruas voltadas ao pedestre, ao ciclista, ao transporte público, a diversificação do uso do solo se incorporados ao Plano Diretor do Município de São Paulo poderão transformar a paisagem e a realidade de Itaquera”, conclui a arquiteta.