Por Jessica Lipinski*

Hortas urbanas e parques de compostagem estão ficando cada vez mais populares, transformando o cotidiano das pessoas e ajudando na geração de empregos e alimentos

A compostagem é uma prática extremamente benéfica para seus usuários e para o cultivo de vegetais, pois ao mesmo tempo que proporciona mais nutrientes para as plantas e para os consumidores, ajuda a reutilizar parte do lixo greenlooporgânico gerado. Contudo, em grandes cidades, onde muitas vezes os habitantes sofrem com a falta de espaço em suas residências, a compostagem pode se tornar uma atividade mais difícil de ser realizada.

Mas pelo menos a ilha de Manhattan, na cidade de Nova Iorque, já tem uma alternativa para solucionar esse problema: o escritório de arquitetura Present Architecture apresentou recentemente um projeto para criar na região uma série de ‘ilhas’ de compostagem.

As estruturas, que receberam o nome de Green Loop (Laço Verde), têm como objetivo processar cerca de 30% do lixo residencial da cidade. Além disso, acima dos centros de compostagem, as ‘ilhas’ terão uma área dedicada a hortas urbanas, parques e até espaços para a prática de ski no inverno, acrescentando 50,59 hectares de área verde ao município.

As ‘ilhas’ devem funcionar da seguinte maneira: caminhões levarão o lixo orgânico até os centros de compostagem. Lá, os resíduos passarão pelo processo, sendo o composto orgânico transportado depois a diversas localidades através de trem ou barcaças.

“Essa proposta criará uma rede de parques de compostagem que processarão nosso lixo orgânico. Isso significa uma redução drástica de milhas rodadas por caminhões para aterros sanitários e diminuição no tráfego, barulho e poluição, com os benefícios adicionais de ruas mais seguras, ar mais limpo e menos emissões de gases do efeito estufa. Além disso, significa um novo tipo de parque público e um produto para o mercado – um composto rico em nutrientes feito em Nova Iorque”, observaram os autores do projeto.

Eles também defendem que a implementação de vários pequenos centros de compostagem, em vez de apenas um grande, criará um sentimento de ‘equidade’ nas vizinhanças, visto que cada uma ficará responsável pelo lixo de sua região.

“Isso garante que cada vizinhança é responsável por processar seus resíduos em vez de mandar todo o lixo da cidade para uma ou duas vizinhanças sobrecarregadas”, comentaram os autores.

Eles esperam que a administração da cidade apoie o projeto. “A cidade de Nova York já está criando um piloto de um programa de compostagem, então a compostagem será em breve uma realidade. O Green Loop levará essa realidade muitos passos para o futuro para uma cidade de Nova Iorque melhor para todos”, declararam.

Felizmente, iniciativas comunitárias para a gestão do lixo e da agricultura urbana não estão restritas a esse exemplo. Na cidade de Shenzen, na China, está em funcionamento há três meses uma horta comunitária que fornecerá à comunidade alimentos de graça.

A horta ocupa uma área de dois mil metros quadrados em uma antiga fábrica de vidro. Os arquitetos responsáveis pelo projeto aproveitaram a estrutura original da fábrica, como paredes antigas e tijolos, para formar os quadrantes específicos de cada tipo de planta cultivada no local.

Dessa forma, além de gerar alimentos para a população, o projeto reconectou os habitantes ao meio ambiente, melhorou o microclima local e revitalizou o espaço, que estava abandonado. O local recebe ainda eventos culturais e programas de educação ambiental, complementando seus benefícios à população. Espera-se que a horta seja um modelo para iniciativas semelhantes no país.

Outro exemplo é a cidade inglesa de Todmorden, que há cinco anos criou o projeto The Incredible Edible Todmorden (A incrivelmente comestível Todmorden), que desenvolveu o cultivo de hortas coletivas em espaços públicos do município. Da mesma maneira que em Shenzen, os alimentos cultivados estão disponíveis de graça para a população.

Em Todmorden, há mais de 40 espaços de cultivo, sendo que alguns são bem inusitados: banheiras no meio da rua, o quintal da delegacia da cidade, jardins de centros de saúde e até o cemitério local.

A ideia é incentivar toda a comunidade a cultivar seus próprios alimentos e a pensar melhor sobre os recursos que consome. A ideia demorou cerca de dois anos até ser bem aceita pelos moradores da cidade, mas atualmente grande parte dos habitantes participa, e até a escola local trabalha em cima do conceito de horta comunitária. Além da produção de alimentos mais saudáveis, a iniciativa também estreitou a relação entre vizinhos.

Brasil

Mas não é apenas em solo estrangeiro que estes programas são desenvolvidos. No Brasil também há iniciativas semelhantes que, além de ajudarem a fornecer comida a comunidades carentes, são exemplos de geração de renda e empregos.

hortaurbanaUma delas é Revolução dos Baldinhos, realizada na comunidade de Chico Mendes, no bairro Monte Cristo, em Florianópolis. A ideia é a seguinte: os próprios moradores recolhem o lixo orgânico e o levam para um ponto seguro onde ele passa pela compostagem.

O projeto nasceu há cerca de cinco anos, e o crescimento do volume de lixo coletado é espantoso: em 2010 foram 29,5 toneladas recolhidas no ano todo; agora, são 12 toneladas por mês. O programa também tem alguns bolsistas, que para participarem precisam frequentar a escola e apresentar boas notas.

“A educação é muito importante, abre portas e dá oportunidade para pessoas que, de outra maneira, poderiam acabar indo trabalhar para o tráfico”, afirma Marcos José de Abreu, agrônomo do Centro de Estudos e Promoção da Agricultura de Grupo (Cepagro), entidade que desenvolveu o projeto.

Outro exemplo foi a ideia do gaúcho Hans Dieter Temp, que em 2003 criou a ONG Cidades sem Fome para dar continuidade a um programa de agricultura urbana que desenvolvia na cidade de Suzano, na região metropolitana de São Paulo.

Atualmente, a ONG soma, apenas na grande São Paulo, 21 hortas, empregando 115 pessoas, dando subsistência a 650 e oferecendo 48 cursos de capacitação em técnicas de produção de alimentos orgânicos, dos quais já participaram mais de mil pessoas.

Além disso, a organização se expandiu, dando origem a um programa de hortas escolares, que tem 15 hortas e atende 3.972 alunos; a um projeto de estufas agrícolas construídas a partir de materiais alternativos, o que barateia os custos; e uma iniciativa de pequenos agricultores familiares, a Hortas Comunitárias, que ajuda agricultores a diversificarem seus cultivos e agregarem valor e criarem oportunidades para seus negócios.

Por fim, outro projeto de incentivo à agricultura urbana é o Plantando na Cidade, idealizado pelo agrônomo Marcos Victorino e apoiado pela Faculdade Cantareira, onde Victorino estudou. Ainda na graduação, ele elaborou um projeto para a utilização de telhas como mini-hortas, tornando assim o plantio de espécies comestíveis mais flexível e acessível.

As mini-hortas foram implantadas em colégios de São Paulo e no próprio campus da Faculdade Cantareira. O objetivo é incentivar a educação alimentar, promover a qualidade de vida e até diminuir as ilhas de calor nas cidades, que ocorrem devido à escassez de áreas verdes.

O preço para a implantação é baixo, ficando em torno de R$ 150 por cada telha de quatro metros. “Essas são ideias que buscam soluções para o cotidiano. As pesquisas em agricultura no Brasil são voltadas somente para o meio rural. Estamos tentando transferir técnicas para o ambiente urbano”, resumiu Victorino.

*Publicado originalmente no portal do Instituto Carbono Brasil