por Marta Oliveira e Melissa Castro / ABCP
A qualidade de vida de uma cidade é medida pela dimensão da vida coletiva nos seus espaços públicos. Espaços mais humanizados permitem lazer, descanso, livre circulação e a possibilidade do encontro com outras pessoas. Em um mundo no qual as pessoas estão cada vez mais conectadas pelas redes sociais e a violência urbana diminui a circulação das pessoas nas ruas, discutir a criação de áreas de convivência se faz necessário. Para debater o tema, a Associação Brasileira de Cimento Portland (ABCP) promoveu no dia 30 de agosto, durante o Concrete Show South America 2013, o seminário Soluções para Espaços Públicos.
Para projetar um espaço público é preciso entender a dinâmica da cidade e o cotidiano das pessoas para que essa área reflita as necessidades e os anseios da população local. “Um bom projeto de espaço público não depende apenas de uma boa execução técnica; também deve ser o espaço certo, no lugar certo e para as pessoas certas. A cidade precisa ser vista sob seus múltiplos aspectos, sejam eles físicos, sociais, econômicos ou culturais. E é este olhar múltiplo que deve ser absorvido pelas políticas públicas”, ressaltou Erika Mota, coordenadora do programa Soluções para Cidades.
A leitura de uma área urbana para a priorização de projetos de espaços públicos não deve se ater apenas a terrenos e a áreas de praças ou parques, mas para o espaço público de uma forma mais ampla, que inclui as calçadas e as ruas, a serem adaptadas para o melhor convívio entre os diferentes modais. “Áreas com grande circulação de pedestres pedem ainda espaços de descanso, arborizados e equipados com mobiliário adequado, de modo que o encontro e a permanência possa se dar na esfera da cidade”, explica a engenheira.
Durante o seminário foram apresentadas soluções de projetos de espaços públicos realizados no Brasil. Além disso, a ABCP elaborou um material que contempla as boas práticas do planejamento urbano para áreas de convivência. Trata-se do Manual Espaços Públicos – Diagnóstico e Metodologia de Projeto que foi lançado durante o seminário, com uma palestra da autora, a arquiteta e urbanista Simone Gatti.
PROJETOS EMBLEMÁTICOS
Qualidade de projeto e compromisso social – Um dos cases apresentados na ocasião foi o Parque Cantinho do Céu que destaca-se como um dos mais significativos projetos de espaço público da cidade de São Paulo por aliar qualidade de projeto ao compromisso social. A sua implementação possibilitou não apenas a ampliação da qualidade de vida a uma área periférica – o parque está localizado no extremo Sul da cidade, nas margens da represa Billings –, mas também o resgate da autoestima de seus moradores. A urbanização foi concluída em 2011 e beneficiou mais de 11 mil famílias num espaço de 1,5 milhão de m². “Além de toda a infraestrutura, como pavimentação, instalação de redes de água e esgoto e drenagem, há um parque linear com quadra de vôlei, futebol de areia e grama sintética, academia ao ar livre, playground, pista de skate, praça, estacionamento e três decks em madeira”, explica Marcos Boldarini, da Boldarini Arquitetura e Urbanismo.
Funcionalidade para todos os espaços – Outro case apresentado foi o da Academia Cora Garrido, que foi concebido para melhorar a situação de ocupação improvisada de ma áreas de 7 mil m² que fica debaixo do Viaduto do Café, no bairro da Bela Vista, São Paulo. A proposta, apresentada por Igor Guatelli, professor FAU/Mackenzie, é manter as características existentes e combinar os espaços de maior especificidade programática, como uma biblioteca e escola infantil, com espaços mais fluidos e inexatos, de maior liberdade de ação e possibilidades de alterações. Foram utilizados ringues de boxe deslizantes em trilhos combinados com degraus, armários como divisores de espaços e mezanino multifuncional, tudo envolvido em um espaço fluido e transparente que permite a visibilidade da cidade. Contêineres abrigam usos específicos, como alojamentos, vestiários e cozinha.
Mais que uma praça
Lucas Fehr, do estúdio América de Arquitetura, apresentou a proposta do bairro de Capim Macio, em Natal, Rio Grande do Norte, o projeto da praça tinha o objetivo de potencializar a tendência natural da área, oferecendo à cidade um verdadeiro “monumento natalino” – a cidade foi fundada no dia 25 de dezembro de 1599. A nova praça foi pensada para abrigar eventos e ser uma área de convivência. No local, haveria um lago, que quando vazio, se transformaria em anfiteatro, além de uma grande área de sombra, com uma cobertura leve, ampla, composta por árvores estruturais, de concreto e metal, que sustentariam um pergolado coberto por um tecido impermeável e translúcido. Sob ela, bares e lanchonetes. O piso da praça, de mosaico, seria permeável. As águas, drenadas para os jardins ou para o lago. O projeto contemplou ainda a vegetação regional e materiais de construção simples e de fácil manutenção.
O seminário reuniu cerca de 100 pessoas, — a maioria estudantes de Arquitetura – e contou com o apoio do Conselho de Arquitetura e Urbanismo (CAU/SP), Associação Brasileira dos Escritórios de Arquitetura (Asbea) e Federação Brasileira das Associações de Engenharia (FEBRAE).