Por Tatiane Ribeiro, publicado originalmente na Folha de S.Paulo

 

Terrenos vazios podem ter outras utilidades além de estocar lixo e servir de estacionamento. Mais do que pensar sobre isso, grupos de diversos coletivos se reuniram para colocar a ideia em prática.

“Buscamos um espaço potencial onde pudéssemos ocupar com uma intervenção de agroecologia e usamos as redes sociais para convidar as pessoas”, conta a professora Diná Ramos, 38.

Em conjunto com um grupo de cerca de 40 pessoas, Diná iniciou a horta comunitária na Vila Pompéia”. No terreno, localizado entre as rua Francisco Bayardo e a rua Saramenha, na zona oeste de São Paulo, onde existia apenas mato e lixo, começaram a surgir flores, árvores frutíferas, temperos e verduras.

“Estamos no terceiro encontro e, desde o começo, nos organizamos de forma autogestionada, onde todos os participantes podem contribuir da forma que quiserem”, explica.

Com a ajuda dos lambe-lambes colados nos postes do bairro, jovens, adultos, crianças e idosos chegam no domingo para ajudar na horta.

Quem acorda cedo participa do café da manhã colaborativo e do bate papo sobre o planejamento das ações, os próximos passos e ainda um balanço do que foi feito.

“No primeiro encontro, o mato estava alto e havia muito entulho. Começamos a podar, fazer os canteiros, produzimos placas informativas e lixeira de garrafa PET”, conta.

Após três dias de ação conjunta, o espaço já conta com mudas de girassol, alface, alecrim, arruda, manjericão, batata-doce, acerola e couve, entre outras. Há ainda a preocupação com a visão estética: bromélias e orquídeas são penduradas nas árvores.

“Nosso objetivo maior é ocupar os espaços ociosos e assim gerar um processo de articulação social no entorno. Há muitas pessoas que foram do campo para a periferia e perderam esse contato com a terra. Ao mesmo tempo, há lugares que precisam exatamente disso”, diz Fonseca, 32, educador ambiental e um dos articuladores do grupo.

Com a cooperação de biólogos que aparecem nos encontros, a horta segue princípios agroecológicos, como controle natural de pragas, uso de sementes não trangênicas e ainda composteiras produzidas em apartamentos.

“A mudança é gradual, e a cada dia fica mais bonito. Para mim é excelente. Mexer com a terra me dá paz de espírito”, conta o consultor Adriano Sampaio, 41, que mora na mesma rua do espaço.

“Queremos que os vizinhos se conheçam mais e criem mais identidade com o local em que vivem. A ideia é que eles tomem conta do lugar, para que nós possamos replicar em outros bairros”, diz Átila Fragoso, 31, finalizador de vídeo no coletivo Casa da Lapa. “O que mais aprendo com tudo isso é que fazer algo transformador é simples. É só usar o que se tem.”

Para a cientista social Ana Godoy, 52, funciona como uma saída política. “Moro em um apartamento, então uso esse espaço como um jardim. Venho e cuido de algo que é para todo mundo.”

A professora Giulia Mendonça, que trouxe o filho Miguel, 3, também partilha da ideia de quintal coletivo. “Não tive na infância, mas acredito ser fundamental para meu filho, e a convivência com as outras pessoas do bairro torna essa experiência melhor ainda.”

A manutenção da horta fica a cargo dos moradores mais próximos do espaço. “Vou até a porta dos vizinhos para convidá-los. Muitos ainda não vieram. Mas acredito que a consciência de que o espaço público é nosso tende a crescer.”

A recém-formada em oceanografia Juliana Gonçalves, 23, veio de outro bairro para ajudar. “Eu quis participar dessa horta específica para acompanhar o processo desde o início, aprender como mobilizar as pessoas e assim replicar onde eu moro.”

Na mesma linha da troca de conhecimentos, nos próximos encontros na horta haverá oficinas de compostagem, minhocário e bioconstrução. “Convidamos o arquiteto Gugu Costa, que tem experiência com sustentabilidade, para ensinar como usar o entulho que existia aqui e assim criar o mobiliário da praça”, conta Diná.