A transformação do Rio Cheonggyecheon, na Coreia do Sul, se tornou exemplo mundial de como os obstáculos podem ser superados com a ação conjunta da sociedade
O que começou como uma questão de custo – recuperar ou demolir uma via elevada em Seul, na Coreia do Sul – evoluiu para uma questão de valor: resgatar o antigo rio para a cidade.
Foi a partir dessa premissa que hoje a capital sul-coreana desfruta com orgulho da recuperação do rio Cheonggyecheon, que desde a década de 1960 era coberto por uma via elevada destinada aos automóveis. Com a despoluição do rio e a demolição do “minhocão”, a cidade ganhou uma nova área de convívio.
Para isso, o conselho municipal de Seul resolveu recuperar o rio e promover uma grande renovação urbana no local, aproveitando as oportunidades que acompanham tal decisão.
Há 600 anos, o rio Cheonggyecheon era um local de recreio e utilidade na vida cotidiana da cidade, servindo como playground para crianças, lavanderia para as mulheres e um sistema de esgoto para os bairros vizinhos. Durante séculos, Seul esteve sob constante pressão para proteger-se das inundações, da poluição e também do crime e de doenças trazidas com a grande afluência de comunidades rurais assentadas em suas margens.
Em 1958, a cidade iniciou uma obra que pretendia superar os problemas, ao cobrir o rio com uma estrada principal e uma auto-estrada mais elevada. Com isso, introduziu uma nova via de tráfego para os carros e cobriu o córrego, severamente poluído. Mas o empreendimento teve vida curta. Na virada do século XXI, uma avaliação da estabilidade estrutural da rodovia Cheonggye constatou que os riscos eram grandes demais para ser ignorados e os custos demasiado elevados para justificar sua recuperação.
O projeto foi iniciado em 2003 e concluído cerca de quatro anos depois. Com ele, a cidade pôde reencontrar-se com sua história e sua cultura e também criar um novo futuro. O projeto melhorou a qualidade dos passeios e promoveu a revitalização do espaço, para que os cidadãos pudessem desfrutar do tempo livre, fazer compras ou negócios, passando, enfim, mais tempo às margens do rio.
“A restauração do Cheonggyecheon irá transformar a imagem de Seul como o de uma cidade verde, onde o fluxo de água corre limpo. Através deste e de outros projetos, Seul renascerá como uma cidade ambientalmente voltada ao homem, ressaltando o valor de sua marca”, conta Park Kil-Dong, governo metropolitano de Seul.
A redução do tráfego rápido e pesado de veículos resultou em um ar mais limpo, em melhor acesso aos centros comerciais e de negócios e no surgimento de muitos novos habitats de vida selvagem na cidade. A melhoria da mobilidade da população levou vida nova aos distritos vizinhos, como Gwanggyo (história, cultura, finanças), Sewunsangga (informática e eletrônica) e Dongdaemun (moda), de tal forma que eles passaram a agregar valor cultural e econômico à cidade.
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